28 dezembro 2011

Hoje é o dia de amanhã.

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Hoje corre-te um rio dos olhos
e dos olhos arrancas limos e morcegos.
Ah, mas a tua vitória está em saber que não é hoje o fim
e que há certezas, firmes e belas,
que nem os olhos vesgos
podem negar.
Hoje é o dia de amanhã.
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Fernando Namora, in "Mar de Sargaços"


"Peixe Colorido", A5, 2010

26 dezembro 2011

Fado 02


Fado 02, A5, 2011
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O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.
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José Régio, in 'Fado Português; Poemas de Deus e do Diabo'




21 dezembro 2011

Sketchbook

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Original é o poeta 
que se origina a si mesmo 
que numa sílaba é seta 
noutra pasmo ou cataclismo 
o que se atira ao poema 
como se fosse ao abismo 
e faz um filho às palavras 
na cama do romantismo.
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Ary dos Santos, "O Poema Original"


"Things", A5, 2011

"Hornbill 2", A5, 2011

18 dezembro 2011

Pontos de Vista 02

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Ténue é o cais 
no Inverno frio. 
Ténue é o voo 
do pássaro cinzento. 
Ténue é o sono 
que adormece o navio. 
No vago cais 
do balouço da bruma 
ténue é a estrela 
que um peixe morde. 
Ténue é o porto 
nos olhos do casario. 
Mas o que em fora nos dilui 
faz-nos exactos por dentro. 

Fernando Namora, in "Cais"


"Um Pouco de Azul", Lisboa, 2010

"Vida Dura", Lisboa, 2011

"Vidas Paralelas", Lisboa, 2010

"Friends for Life", Lisboa, 2010